Douglas

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Minha infância foi de uma criança presa dentro da casa, porque meus pais nunca gostaram que eu ficasse na rua por conta da linguagem (as gírias, as músicas, essas coisas), então muitas coisas eu tive que aprender lá fora, quando me envolvi com outras pessoas e comecei a ganhar um pouco de “maldade”. Eu morei na Nova Holanda, morei na Baixa do Sapateiro, morei durante um ano na classe media alta no Recreio dos Bandeirantes. Lá a qualidade de vida era muito melhor, mas era muito mais caro, não deu e tive que voltar. Agora eu moro aqui no Morro do Timbau, faz quatro anos.

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Eu passei oito anos na Marinha, na parte de administração e na parte estratégica. Depois de cinco anos fui promovido a sargento e daí eu tive alguns contatos com alguns comandantes das Forças Armadas e pude ajudar em vários sentidos. Só que chegou uma fase da minha vida em que eu escolhi não querer mais ficar lá por conta das viagens para outros lugares. Se estivesse nas Forças Armadas agora estaria viajando e não poderia fazer uma faculdade, não poderia estar com minha família e tudo mais. Por esse motivo saí e mais para frente pretendo fazer um investimento com o que eu aprendi lá dentro e o que eu estou aprendendo na faculdade, para montar minha própria empresa, pois é muito melhor viver assim.

Na Marinha eu fiquei até 2007 e já em 2006 eu fui convidado por um colega meu para trabalhar vendendo açaí na praia nos finais de semana. Estou trabalhando lá até hoje. Geralmente, eu chego lá por volta de meio-dia e trabalho até terminar, eu vendo de 140, 200, até 250 potes, dependendo da temporada. Na praia é muito “esforçado” para andar na areia, no sol, e gritar: “açaí, açaí!”, mas eu gosto do trabalho porque a gente acaba conhecendo outras culturas diferentes. “Hi, you’d like acai? Yes! You like honey? Yes! How much? 12? 15?” [risas]. Eu fiz uma dieta justamente por conta da praia, pois na praia também é uma questão de arte, uma questão de qualidade. Geralmente as pessoas têm a ideia de que quem trabalha na praia é sujo, é burro e está ali porque se perdeu na vida, então quando as pessoas veem uma pessoa que está com um shape, um corpo bonito, elas ficam surpresas e você vende produtos muito bem. As pessoas não veem essa profissão como algo que dá lucro, mas dá muito mais do que você acordar às seis horas da manhã e chegar às sete horas da noite em casa cansando, e chegar no final do mês para ganhar dois mil reais. Na praia se eu vendo 140 potes e cada unidade é 10 reais, eu faço mais que mil reais em um dia.

Para mim só existem três modos de uma pessoa se dar bem aqui no Brasil: ou você trabalha com um nível superior; ou você trabalha de conta própria ou você faz concurso publico, porque lá o salário é fixo. Uma pessoa que trabalha com nível médio não ganha mais que dois mil reais e ganha sofrendo, acordando muito cedo, chegando a noite. Na Marinha eu pegava 6:30h da manhã e eu tinha que sair da minha casa às 5h, tudo escuro, e só voltava por conta da faculdade às 23h da noite. No final eu falei: “quero mais não, não aguento mais”.

Infelizmente, para viver em uma sociedade dessas, as pessoas ou têm que roubar ou têm que trabalhar muito, uma vida de vários empregos para conseguir uma qualidade de vida melhor. Pra quem tem filhos é muito difícil colocar colocá-los em uma escola pública, as escolas boas são todas pagas, você pagaria em torno de dois, três mil reais por aluno por mês. Esse é o Brasil que prepara jovens para o futuro, burros atrás de pessoas burras para eles continuarem no comando. O Brasil vive de aparência, ele vive uma maquilagem para as pessoas que moram lá fora – Olimpíadas, Copa do Mundo – e os Brasileiros todos sabemos que é corrupto, só que o governo não dá brecha pra gente questionar. A verdade é que quando não estudamos, quando não adquirimos conhecimento, a gente não procura os nossos direitos como consumidor e na justiça, quando a gente está estudando a gente começa a ganhar novas perspectivas que fazem com que a gente corra atrás dos nossos objetivos, porque temos as ferramentas pra fazer isso.

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Agora estou querendo o impeachment da Dilma, eu estou cheio de vontade que as Forças Armadas do Brasil tomassem o poder, porque os bandidos teriam medo das Forças Armadas que nem nos anos 60, 70, na época da ditadura. É a melhor coisa que pode acontecer porque as pessoas conseguiriam viver com uma certa qualidade, porque militar não tem hora extra; eu, seu sargento, vou falar: “eu quero que você construa essa calçada”, e vai ser feito. O militar sim rouba, até acontece, mas se descobrirem é muio pior para o militar, é cadeia e tudo mais, no Brasil hoje em dia não é feito nada, o político rouba milhões de dólares, guarda nas Ilhas Cayman e ninguém vai fazer nada.

Na ditadura tem pessoas torturadas, mas qual é um lugar que não tem tortura? Se você for ver a história e comparar com os dias de hoje, as pessoas morrem muito mais que na época da ditadura, hoje em dia quem morre são pessoas inocentes, uma criança, um pai de família, e o bandido vai preso e depois está solto e vai matar novamente. Se você é assaltado e vai falar com a polícia, o policial não vai fazer nada porque eles também estão de mãos atadas. No outro dia os bandidos estão lá pra te assaltar de novo. Essa é a sociedade que vivemos, onde a qualidade de vida tem se acabado, os valores morais têm se perdido e a gente não pode fazer nada, então eu prefiro ditadura porque se você é bandido você vai saber que não tem desculpa com as Forças Armadas, você vai ter que pagar, com certeza diminuiriam a taxa de homicídio e a taxa de roubo. Era muito melhor ter um bandido morto na época da ditadura do que ele ficar matando os pais de família hoje em dia.

A verdade é que eu tenho deixado de ser patriota, patriota é aquela pessoa que gosta do lugar onde ela vive. Não é que eu tenha uma raiva do Brasil, Brasil é muito bom, muito lindo, é sempre um tempo agradável, você vai pra Copacabana e vê as estrelas, o mar, a briza, toma água de coco, isso é muito agradável, só que por conta dos problemas que temos no nosso país, acabam desgastando a pessoa como se fosse um casamento, de tanto você ver tragédia, tanta corrupção, você acaba dizendo “o Brasil não aguento mais”. Mas a gente tem que aprender a viver com essa situação e tentar mudar de alguma forma mesmo que a gente não consiga mudar o sistema. Você pode procurar estudar muito, ganhar um bom dinheiro e ir para outros lugares pra viver com sua família.

Eu e a minha esposa, a gente virou pai muito novo, eu fui pai com 21 anos, ela foi com 20. Tivemos alguns problemas no início, mas a gente acabou crescendo em cima das dificuldades, agora eu tenho 26 anos e a gente, graças a Jesus, tem uma casa, um carro e dois filhos que estudam em escola particular, que todo dia têm lanche para comer. Quando eu tiver 28 anos já vou estar estarei me formando em nível superior de administração, e depois a minha ideia seria passar no concurso público e conseguir um bom dinheiro para sair daqui. Eu não quero viver em riquezas, ter um monte de dinheiro, eu quero viver bem, com qualidade, dar uma qualidade de vida pros para os meus filhos e pra para a minha esposa. Eu acho que essa ideia de que podemos só viver no Brasil é uma mentira. Infelizmente eu nasci no Brasil, mas isso não significa que eu tenho que viver no Brasil. Eu posso viver em qualquer lugar do mundo, eu tenho que procurar aquilo que é melhor pra mim.

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